domingo, 11 de novembro de 2007

Palestra: Pra quem significa?

Na colina onde se originou o Bairro da Penha de França na zona leste do município de São Paulo, está localizado o Largo do Rosário, espaço urbano que leva este nome devido a Igreja do Rosário dos Homens Pretos, erguida no século XVIII por descendentes africanos mantidos em regime de escravidão. Estes afros brasileiros, escravos que, buscaram através da conversão ao catolicismo uma brecha para que pudessem resistir as agruras de uma sociedade escravocrata conseguiram em 1802 o inicio da conquista de um espaço sagrado.
Por meio desse espaço se originou a construção da igreja do Rosário dos Homens Pretos, espaço este que veio a se tornar local de interação social com o passar do tempo mantido pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos na Penha até o final dos anos 60.
Durante as três últimas décadas devido aos processos de transformação pelos quais passaram a sociedade brasileira e o bairro a irmandade se extinguiu, e este espaço deixou de ter o valor histórico para as novas gerações, principalmente para os descentes afro brasileiros.
Portanto, todo o mês de junho, já pelo quinto ano consecutivo, a comunidade organizada vem buscando através de atividades culturais e religiosas manter viva a memória da importância desse espaço para se entender o processo de formação da história do nosso povo.
A programação organizada pelo Movimento Cultural Penha nestes últimos cinco anos contribuiu, trazendo projetos com a temática afro-brasileira como o Grupo Batakerê, Grupo Babalotim, Grupo Mão na Luva, Projeto Uh-Batuk-Erê, Folia de Reis de Poá e Projeto Raiz entre outros, onde buscou realizar atividades culturais com objetivo intermediar a reflexão da importância desse espaço para os jovens estudantes das escolas mais próximas da Igreja e das comunidades interessadas.

O evento proposto no mês de dezembro pretende trazer uma palestra (experiências) sobre a participação do MCP na Festa do Rosário a partir do envolvimento das escolas da Penha e entorno, com os projetos de diálogo das tradições afro-brasileiras num espaço simbolicamente de importância histórica da formação da cultura brasileira: o Largo do Rosário. A palestra contará com depoimentos de representantes de grupos participantes, organizadores e de pesquisadores, e serão registrados e organizados em material disponível a todos os grupos e entidades interessados.

Convidados: (a confirmar)
Representantes da Festa: Carlos Casemiro e Selma Casemiro (Rei e Rainha do Congo em 2006) e
José Morelli;
Representantes dos grupos culturais e artísticos: Pedro Peu (Batakerê), Edson Azevedo (Uh-Batuk-Erê), Luzinete (Projeto Raiz), Wagner (Folia de Reis de Poá), Giuliana (Mão na Luva), Solange (Babalotim);
Representantes das Escolas: EE Pe Antão, EE Santos Dumont, EE Nossa Sra da Penha e ETE Aprígio Gonzaga;
Representantes de organizações e pesquisadores: Carlos José, Michael Franklin e Francisco Folco;
Representantes do MCP

Eixos da palestra: espaço público, Educação e Cultura Afro-Brasileira e História da Igreja de Nossa Sra do Rosário dos Homens Pretos.

Data indicativa: 08/12/2007
Horário:
Local: SENAC Penha

domingo, 30 de setembro de 2007

PENHA DE HOJE E DE ONTEM



O Movimento Cultural Penha (MCP) recebeu da família, a doação e cessão do acervo do memorialista Penhense Hedemir Linguitte (falecido em 2005).

... Agora é trabalho muito penoso, que exige muita dedicação e que, por isso, tem que ser feito em equipe... (1)

Trata-se de um importante acervo que remonta a História da Penha Antiga, entre outros trabalhos, como crônicas, relatos etc., desenvolvidos por este ilustre autor.

... Eu vim para a Penha 1924. O bairro se assemelhava a uma cidade do interior... havia muitos campos de futebol, lagoas chácaras... a rua da Penha era a mais movimentada... era um tempo tranqüilo, onde as famílias saiam as ruas para conversar. ... (2)

O MCP considera de inestimável importância esse patrimônio, passando a ser o responsável pela Memória, Imagem, Manutenção, Pesquisa e Divulgação destes documentos. Já estamos projetando e logo este personagem “estará” conversando conosco novamente! Assim, somos gratos a família Linguitte por nos ceder e confiar tal trabalho.

Núcleo de Pesquisa e História

MCP – Movimento Cultural Penha

Hedemir em entrevista dada em agosto de 1991 à ATBIAV nº 44 – pág.10.
Frases (1) e (2) foram tiradas, de entrevista dada por Hedemir Linguitte à Gazeta Penhense em novembro/1989.

Contatos:
movimentoculturalpenha@gmail.com

Endereço: Largo do Rosário, 59 – Penha - SP
http://tribufu-mcp.blogspot.com/

domingo, 16 de setembro de 2007







Folclore por Wagner Tadeu

“Vivemos numa sociedade governada por interesses,
de grupos, classe e nações dominantes (...)
em oposição a esta condição, é necessária uma:
‘educação pela prática da liberdade’.”
(Paulo Freire – Pedagogia do Oprimido./Paz e Terra)

O que é folclore?
Em resumo, é toda manifestação popular, que registre as tradições e costumes, de um povo; produzida e “consumida” pela própria população, transmitida de forma oral, sem técnicas sistematizadas ou de caráter científico. Entretanto, tal questão, exige que se recue no tempo e analisar como se desenvolve esse processo de elaboração histórica.
Entre os séc. XIV e XV, inicia-se na Europa, na Itália, um movimento cultural: o Renascimento; constituído pela burguesia, classe social ligada ao comércio de especiarias do Oriente, que visava estritamente o lucro. Num “sentimento” instintivo de preservação dos seus negócios, cria na base do acúmulo de influências e manutenção dos seus interesses, as condições necessárias para perpetuação de sua classe, investindo na transmissão dos seus valores e conhecimentos, aos seus; iniciando assim, um processo de surgimento de instituições - universidades, ordens acadêmicas e de profissionais. Essa produção, sistematizada e técnica, dá origem a uma cultura, dita “erudita” ou de “elite”, num claro distanciamento enquanto classe social.
Por outro lado, sempre houve uma cultura mais próxima do senso comum, essencialmente popular, umbilicalmente ligada ao povo; que não faz uso de técnicas rebuscadas e/ou elaboradas, em sua construção, e nem por isso, perde em qualidade artística ou expressividade; a exemplo da cultura “erudita”, alcança formas significativas de conscientização de valores, apesar de sofrer na passagem de sua herança cultural, já que sobrevive basicamente da transmissão oral, não contextualizada, de geração para geração.
Podemos então dizer que, se convencionou chamar de folclore, a cisão da cultura, dita “erudita”, com a cultura popular; ou seja: até a classe dominante (elite burguesa), estabelecer seu nível cultural e restringir assim, sua visão-de-mundo; a partir daí, o que não se insere nessa categoria de bens e valores, será considerado, manifestação cultural espúria, decorativa ou acessório, de caráter exótico e/ou folclórico, preso a “ditadura do estético” e sem valor artístico.
Obvio que a percepção da população, em relação tal juízo de valor, é inversamente proporcional; porém estes não possuem os instrumentos de persuasão do poder, sobretudo atualmente, com a “indústria cultural” e os meio de “comunicação de massa”, mas esses já são temas para uma outra conversa; até lá.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Intemperismo

Intemperismo


na Zona Lesta os poetas
surgem entre as pedras,
por entre as ervas daninhas
e rios de águas sujas
asfaltos, cimento e poluição
destrói o que existia
e mesmo assim a poesia
nasce no meio das fendas do concreto.

Zé.m

p/ Severino do Ramo

todo dia é essa guerra
todo dia é essa barra
esse verso caído no escuro
esse menino que berra
essa vida vivida na marra

todo dia é esse murro
todo dia é essa porra
esses uns morrendo de fome
e aqueles outros brincando
de Sodoma e gomorra

Akira 11/10/83

Assobios e risadas

Acordo, sons da cidade na madrugada.
Passos rápidos, acelerações e freadas.
À noite esta inquieta abafada
Ouço um assobio seguido de risadas
Vem-me lembrança das estórias contadas
Sobre a luz do lampião assombrado
Do vão entre a parede e o telhado
Ouvia vozes femininas do quarto ao lado
O som passava claro e compassado
Era minha avó, tias e primas com conversa fiada.
Escuta é o lobisomem na noite enluarada
Ouviu o uivo e o latido da cachorrada.
Agora conta a do saci, pedia a voz amedrontada.
Colchão de palha, olhos no teto aos pouco ficando arrepiado.
Ela dramatizava soltava um assobio e dava risada.
Depois nos dizia: vão dormir molecada.
Caminho ate a janela olho à rua e a calçada
Uma sombra pulando passa apressada
Firmo a vista e já não vejo mais nada
Debruço na janela e digo cruz credo, vai te andando.
Olho pro céu e lembro da avó e solto uma risada.

Zé . m

domingo, 29 de julho de 2007

VI Comemoração da Penha


Quando você for convidado pra subir no adro
da Igreja de Nossa Sra do Rosário
Pra ver do alto a fila de jovens, quase todos pretos
Mostrando aos devotos e não devotos da santa dos homens pretos,
pardos e mulatos,
e outros quase brancos
Como pretos
Mostram aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
Dialogam com as manifestações do passado
E não importa se olhos do mundo inteiro possam
estar por um momento voltados para o largo,
onde os escravos eram castigados.
E hoje um batuque, um batuque com a pureza
de meninos uniformizados,
de escolas públicas revelam
a grandeza épica de um povo em formação.
Nos atrai, nos deslumbra e estimula.
Não importa nada!
Nem a sombra da política higienista,
que quer varrer do pátio
todo João-ninguém.

Ninguém é cidadão!
Se você for ver a festa da Penha
a não ser que tenha,
outro compromisso
Pense
Reze
Aqui

No dia 15/Junho/2007 das 14h às 17h no Largo do Rosário da Penha (São Paulo) o MCP organizou um momento de vivência dos alunos da Escola Estadual Pe Antão com projetos em cultura Afro-brasileira de diferentes locais: Uh-Batuquerê (EMEF Esmeralda Sales P. Ramos – Tremembé); Grupo Folias de Reis (Maestro Wagner – Poá) e Projeto Raiz (EMEF Me. Mª Imilda do SSmo Sacrto – Itaim Pta). Além de conferir e interagir com as apresentações os alunos puderam ter uma exposição sobre a história da Irmandade e da festa do Rosário de dentro da própria Igreja. No total cerca de 300 pessoas prestigiaram mais uma intervenção pública deste mês de comemorações.

A travessia

A travessia atlântica dos negros africanos, durante séculos de tráfico escravista, foi o maior movimento migratório que o mundo conheceu. Mas ao contrário do que pretenderam aqueles que os escravizaram, eles não eram meras máquinas produtivas. E sim os rigorosos senhores de toda uma imensa riqueza humana e espiritual. Obrigados a cruzar o mar oceano em sórdidos navios negreiros, carregaram consigo o brilho dos seus saberes, das suas técnicas, dos seus símbolos. Felizmente muitos deles vieram dar em nossas latitudes tropicais. Puderam assim participar, ativa e criativamente da invenção de um país chamado Brasil. E foram tão fundo, nesta aventura construtiva, que hoje eles somos nós. Sim. Trazemos a presença de uma África centenária, milenar mesmo, em nossos códigos genéticos e simbólicos. Em nossas células e em nosso imaginário. Em nossa memória gestual e muscular. Antes que escravos passivos, os negros foram sujeitos vitais de nossa história. Inscreveram na constelação brasílica as suas cores e suas dores, os seus ritos e ritmos, candomblé e afoxés. Uma vitória espetacular. Graças a isso tornou-se possível a configuração, entre nós, de uma cultura sintética e sincrética. De uma cultura que, incorporando todos os nossos antepassados, nos defini e nos singulariza na aldeia global. E faz com que sejamos, nesse momento da peripécia histórica da humanidade, portadores de uma mensagem de alcance planetário.
Antônio Risério

quarta-feira, 30 de maio de 2007

O Largo do Rosário



Em 2005 o MCP trouxe a Folía de Poá, para particiapar da Festa de aniversário da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

Igreja construída em 1802 pelos escravos e alforriados pertencentes a Irmandade dos homens Pretos.

Neste ano estaremos trazendo de novo a Folía de Poá para animar a festa e dar continuidade ao trabalho de formação para as escolas da região que participam das atividades culturais realizadas por nós.

A programação organizada pelo MCP ocorrerá no dia 15/06 a partir das 14h no próprio Largo do Rosário no centro do Bairro da Penha.

domingo, 27 de maio de 2007

Grupo de risco: a ignorância

“Infelizmente, a maioria da população ainda associa a probabilidade de se infectar pela a AIDS aos chamados ‘grupos de risco’, a compreensão da mudança epidemiológica vigente que incorpora o perfil de mulheres heterossexuais de parceiros fixos reflete a relevância da problemática e a necessidade de empoderar as mulheres para o combate à AIDS, o que só poderá se efetivar na prática, a partir do momento em que as mulheres passarem a ter percepção dos riscos à que estão expostas. Diante disso, compete também aos serviços de assistência a saúde da mulher, traçar plano operacional que considere a complexidade da questão”.

Ninalva de Andrade Santos e Mirian Santos Paiva
http://www.aidscongress.net/article.php?id_comunicacao=311

"Livre-se"


"Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre."

"O mesmo amor que tenham por nós,
quer-nos, oprime-nos."

Ricardo Reis

sexta-feira, 25 de maio de 2007

O mês de junho promete

Junho promete coisas boas para o MCP, neste mês estaremos participando da VI Festa em comemoração do aniversário da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos homens Pretos no bairro da Penha / São Paulo - SP.
Como nos outros anos fazemos parte da comissão da festa, festa que a partir desse ano faz parte do calendário de festas da cidade de São Paulo. Dia 15/06 a partir das 14h estaremos realizando nossa atividade apresentando no Largo do Rosário os grupos: Projeto Raiz (EMEF Me. Mª Imilda do SSmo Sacrto – Itaim Pta), Uh-Batukerê da EMEF Esmeralda Sales P. Ramos – Tremembé) e Grupo Folias de Reis (Maestro Wagner – Poá.
Estes grupos se apresentaram para escolas da região, os alunos assistiram os eventos no próprio Largo do Rosário, onde tomaram contato com a história do bairro e da importância desse espaço para a compreensão da participação do negro na formação da cultura brasileira.


Neste mês ainda estaremos lançando alguns produtos (camisetas, bolsas e fanzine) para levantarmos fundo para a entidade além de gerar renda para quem se propuser a vender.


Estes produtos também serão comercializados no evento que comemora o "Dia da Ação Sócio Ambiental" organizado pela Rede Social Penha ao qual também fazemos parte, será no dia 30/06 no Parque Tiquatira das 10h às 17h. O MCP traz para se apresentarem no parque o Grupo de Teatro Mão na Luva, que além da apresentação farão uma oficina de bonecos. Como estamos esperando a confirmação da infra-estrutura para convidar outros grupos, pedimos que os interessados aguardem mais informações pelo blogger ou entrem em contato: movimentoculturalpenha@gmail.com